As férias acabaram… O segundo semestre chegou e, com ele, alguns sentimentos contraditórios. Sentimos as energias renovadas e uma incrível vontade de realizar novos projetos! Sim, o professor é um eterno esperançoso, que acredita sempre no poder transformador da Educação! Mas, ao mesmo tempo, a volta às aulas do segundo semestre traz consigo novos desafios e aquela sensação, um tanto quanto sufocante, de que não dá tempo para fazer tudo que queremos!

As férias escolares foram o necessário tempo de pausa, descanso e diversão. Essa parada é mesmo essencial para alunos e professores, pois esse processo permite a reciclagem dos neurônios, uma “faxina” cerebral que vai eliminar registros desnecessários e fixar aprendizados efetivos.

Contudo, essa retomada precisa de estratégia para que a sensação de tempo escasso não transforme a rotina rapidamente em estresse e, para isso, temos uma dica infalível! Uma atividade simples e profundamente transformadora pode ser a ponte perfeita entre o estudo e desenvolvimento: a leitura por prazer.

A dificuldade é que, em pleno século XXI, a leitura, tão essencial para o desenvolvimento pleno, está perdendo cada vez mais espaço para o “deslizar de telas”. Isso não só complica o desenvolvimento cerebral da criança, como impacta diretamente em diversas áreas do crescimento, inclusive a física.

Como fazer para incentivar a leitura por prazer se parece que não sobra tempo para nada com tantas demandas, conteúdos e avaliações na programação?

Leitura como descanso mental

Pesquisas em neurociência e psicologia indicam que a leitura pode atuar como uma poderosa ferramenta de relaxamento. Um estudo da Universidade de Sussex (2009) apontou que apenas seis minutos de leitura diária já contribuem para a redução dos níveis de estresse em até 68%, superando atividades como ouvir música ou caminhar. Isso porque, ao mergulhar em uma narrativa, nosso cérebro se desconecta das tensões externas e se envolve num universo simbólico que estimula a imaginação e acalma o ritmo cardíaco.

Mais do que um simples passatempo, ler é uma forma de autocuidado mental. Ao ler uma história leve, divertida ou emocionante, o leitor desacelera, reconecta-se e encontra prazer na construção de sentidos, ampliando sua empatia e capacidade de abstração.

 Ler por prazer também é aprender

Nem sempre a leitura precisa estar vinculada a metas escolares ou avaliações. Ler por prazer é uma forma legítima de aprender, pois favorece a aquisição de vocabulário, o desenvolvimento da escrita, o fortalecimento da memória e o estímulo ao pensamento crítico. Como ressalta o educador português António Nóvoa, “não há boa educação sem o prazer da leitura”.

Se é difícil estimular a criança a ler para estudar, propor que ela leia o que gosta (e aqui vale tudo – de gibis a revistas de automóveis, por exemplo) pode ser o melhor caminho para que ela descubra o prazer de aprender. Ao criar momentos em que a criança se vê envolvida com a leitura por vontade própria, sem cobranças, ela constrói uma relação afetiva com os livros, o que contribui para a formação de um leitor autônomo e permanente.

Como incentivar a leitura na rotina?

Aqui vão algumas dicas simples, mas eficazes, para tornar a leitura uma companheira diária:

  1. Crie um espaço de leitura aconchegante

Monte um cantinho da leitura com almofadas, luz suave, uma cesta de livros variados. Combine com a turma que esse cantinho será um refúgio livre para quem concluir as atividades e deixe a criança escolher o que e como quer ler.

  1. Varie os formatos

Livros físicos são essenciais, mas se as telas estão em alta, também vale explorar audiolivros, histórias narradas em vídeo e HQs. O importante é cultivar o gosto pela narrativa.

Vale lembrar que a criança que consegue se concentrar ao ouvir uma história está desenvolvendo importantes habilidades relacionadas à concentração, assimilação e compreensão textual.

  1. Leia junto

Crianças que veem adultos lendo com prazer tendem a imitar o comportamento. Ler em voz alta, compartilhar impressões ou mesmo fazer “sessões de leitura” pode ser inspirador. Já dizia o sábio: “O exemplo arrasta!”

  1. Crie a “hora da leitura” na classe

No início ou no fim da aula, no retorno do recreio… Escolha um título legal e faça a leitura de um trecho por dia. Além de estimular a imaginação e curiosidade dos estudantes, são poucos minutos por dia que se tornam uma rotina prazerosa e estimulam a concentração dos estudantes para as outras atividades também.

  1. Faça da leitura um presente

Crie oportunidades para que os estudantes troquem livros entre si. Você pode organizar uma pequena “feira de troca” periodicamente ou um “amigo secreto” de livros.

  1. De leitor a autor

Pode ser que a criança goste de criar histórias e isso é um excelente mecanismo para estimular a leitura. Que tal criar um caderno especial ou um diário e incentivar aquele estudante criativo a escrever suas histórias e aventuras? Vocês podem combinar momentos na semana para que os “autores” possam fazer uma sessão de “contação” das suas produções, ou trocas entre eles, para que os colegas leiam as produções uns dos outros. Mas lembre-se que atividades assim são apenas para a leitura… sem críticas ou correções que podem constranger e travar a criatividade.  As correções terão seus momentos oportunos nas aulas de produção textual.

 Dicas de leitura para contagiar

  • “O Menino Maluquinho” – Ziraldo (a partir de 7 anos)
  • “A Bolsa Amarela” – Lygia Bojunga (a partir de 9 anos)
  • “Marcelo, Marmelo, Martelo” – Ruth Rocha (a partir de 6 anos)
  • “O Pequeno Príncipe” – Antoine de Saint-Exupéry (a partir de 10 anos)
  • “Diário de um Banana” – Jeff Kinney (divertido e acessível para leitores iniciantes)
  • Coleção Gato e Rato – Mary França e Eliardo França (leitores em processo de alfabetização)
  • Coleção Vagalume – Coleção de clássicos com vários títulos de aventuras para adolescentes.

Incentivar a leitura é promover desenvolvimento com leveza, alegria e aprendizado ao mesmo tempo. Ao oferecer livros como companheiros de lazer, ajudamos as crianças a se reconectarem com o prazer de imaginar, sonhar e refletir — habilidades que farão diferença por toda a vida.

Dá trabalho? Talvez… Mas é de um valor incalculável dedicar tempo agora, para que a paixão pela leitura possa ser semeada no coração das crianças. Os frutos, no futuro, serão muito mais saborosos!

Ler por prazer é, no fundo, uma forma silenciosa e poderosa de crescer.

Referências

LEWIS, David. Galaxy Stress Research. University of Sussex, 2009.

OECD. Reading for Change: Performance and Engagement Across Countries. Results from PISA 2000. Paris: OECD Publishing, 2002  Disponível em: https://www.oecd.org/education/school/programmeforinternationalstudentassessmentpisa/33690904.pdf

COLOMER, Teresa. Andar entre Livros: a leitura literária na escola. São Paulo: Global Editora, 2007.

DEMO, Pedro. Educar pela Pesquisa. Campinas: Autores Associados, 2002.

CHAMBERS, Aidan. O Leitor como Crítico. São Paulo: Editora Ática, 1991

Autora: Amanda Helena é jornalista e professora, com licenciatura em Letras e especialização em Linguística aplicada à Educação, Neurolinguística e Produção e Revisão de Textos. Atualmente, é Analista de Operações Sênior no Grupo Vitae Brasil.

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