Nos primeiros 300 anos do período colonial, a educação era privilégio de poucos. As escolas nas províncias brasileiras atendiam apenas uma pequena parcela da população, da qual as mulheres eram totalmente excluídas. Os Padres Jesuítas ensinavam exclusivamente os meninos e homens da elite, perpetuando uma estrutura educacional desigual.
A primeira mulher alfabetizada do Brasil
A história registra Madalena Caramuru como a primeira mulher alfabetizada do Brasil. Filha do português Diogo Álvares Correia e da indígena Moema Paraguaçu, dos Tupinambás, Madalena aprendeu a ler e escrever com seu marido, o português Afonso.
Em sua cultura de origem, não havia distinção de gênero na aprendizagem, o que a fez questionar por que meninas e mulheres eram impedidas de estudar pelos colonizadores. Em 1561, escreveu uma carta ao Padre Manoel da Nóbrega solicitando alfabetização para todos e o fim dos maus-tratos contra crianças indígenas. Embora o padre tenha concordado, a corte portuguesa vetou a proposta, temendo as implicações desse projeto.
A curiosidade feminina e a busca pelo conhecimento
A história de Madalena Caramuru reflete uma característica marcante das mulheres: a curiosidade intelectual e o desejo de compartilhar conhecimento.
A alfabetização representa um salto quântico para o desenvolvimento humano, permitindo acesso a ciência, cultura e história.
O primeiro documento escrito por uma mulher no Brasil não fazia pedidos pessoais, mas reivindicava um direito coletivo, evidenciando a generosidade e o senso de justiça que marcam a atuação feminina na educação.
Mulheres que transformaram a educação brasileira
A presença feminina na educação evoluiu desde Madalena Caramuru até nomes como:
Anália Franco: pioneira na educação feminina e inclusiva.
Antonieta de Barros: primeira mulher negra a ocupar um cargo político e defensora da educação pública.
Cecília Meireles: escritora e educadora que revolucionou o ensino de literatura.
Nise da Silveira: trouxe humanização para o tratamento psiquiátrico, incorporando a arteterapia como ferramenta de educação e cura.
Essas mulheres ajudaram a conquistar igualdade de gênero, inserção de conteúdos científicos para meninas e avanços na humanização da educação.
A presença feminina na educação hoje
O Censo Escolar 2023 revela que:
79,5% dos docentes da educação básica são mulheres (1,9 milhão de um total de 2,4 milhões);
81,6% dos cargos de direção escolar são ocupados por mulheres (cerca de 117 mil profissionais);
A permanência feminina na educação é uma realidade, consolidando-se como uma profissão de grande impacto social.
A atuação das mulheres na educação exige qualificação contínua, habilidades pedagógicas e valores como equidade, criatividade, resiliência e empatia para promover um ensino transformador.
Conclusão: um Brasil mais Madalena Caramuru
Se no passado a educação feminina foi reprimida, hoje vemos avanços notáveis.
A luta por equidade, protagonismo e transformação social continua. Que possamos construir um Brasil mais justo e inclusivo, onde todas as mulheres tenham acesso ao conhecimento e possam impactar a sociedade com sua força e inteligência.
Fontes
https://www.gov.br/inep/pt-br/assuntos/noticias/censo-escolar
Cararo, Aryane; Porto de Souza, Duda (2017). Extraordinárias: Mulheres que revolucionaram o Brasil. São Paulo: Seguinte. p. 208. ISBN 978-8555340611

Autora: Profa. Erika Neves. Psicóloga Clínica e Educacional e mestre em Ciência da Educação.