Formação Continuada de Professores: como transformar teoria em prática na sala de aula

Quando se anuncia “formação continuada”, o coração do professor dispara: será mais do mesmo? Virá uma teoria acadêmica distante da sala de aula? Qual é o tema que vão trazer desta vez?

São perguntas que revelam como uma formação continuada, feita sem planejamento e às pressas, engole o cuidado, comprime a agenda e aquilo que deveria ser solução vira pedra no caminho. Sim, aquela, bem diante das retinas fatigadas de quem ensina. ¹

Formação que vale não usurpa o tempo docente: rende-o.

Mas, como mudar esse quadro?

Seguindo um princípio norteador: a formação só ganha sentido quando se converte em mudanças visíveis no cotidiano da sala, impactando a aprendizagem dos estudantes. Para isso, a comunicação precisa ser clara (e não excludente) no planejamento, e o ponto de partida deve ser um diagnóstico honesto das evidências de aprendizagem.

Ouvindo, lendo e mapeando: faça leitura de cadernos, observação de aulas, análise de resultados de avaliações, devolutivas de famílias e estudantes e registros de conselhos de classe e de HTPCs. Esse conjunto de evidências funciona como bússola: indica lacunas e potencialidades, orienta a escolha de temas e ajuda a definir critérios de sucesso. Estudos em redes brasileiras mostram que formações planejadas a partir de diagnósticos escolares se aproximam mais das necessidades reais, especialmente quando existem canais de escuta entre secretaria, coordenação e docentes (Fundação Carlos Chagas, 2012).

Agindo no problema e reagindo à prática: depois de nomear os desafios pedagógicos (com evidências, não impressões), desenhe um plano formativo que conecte conceitos a exemplos de sala. A curiosidade acadêmica serve à prática, não o contrário. Cada encontro precisa responder a um objetivo claro, mensurável e comunicável ao professor que participa da formação.

Sendo um mestre inspirador: o formador deve unir rigor acadêmico e “chão de escola”. Isso implica adotar linguagem acessível e humilde, capaz de convidar à reflexão e à aplicabilidade imediata. Mais do que expor teorias, ele traduz conceitos para o cotidiano, acolhe contextos diversos, escuta ativamente e co-constrói estratégias com os docentes.

Ancorando na sala de aula: Considere condições concretas de trabalho, recursos disponíveis e a diversidade de turmas. Nas formações, professores buscam soluções e testam protótipos, em vez de apenas ouvir boas ideias. Toda atividade formativa deve deixar um produto mínimo viável: um plano de aula, uma sequência, um instrumento de avaliação ou um roteiro de intervenção. O professor sai com um plano na mão. Altenfelder (2004) aponta que “a formação continuada de professores deve se concentrar no trabalho docente e nas relações que se estabelecem na escola, o que resgata o próprio espaço escolar como lócus importante de formação continuada”.

Acompanhando de maneira criteriosa: combine indicadores de processo (adesão, qualidade dos planos, feedbacks) e de resultado (ganhos de aprendizagem, engajamento, redução de lacunas). Acompanhe, devolva e ajuste o percurso.

O processo formativo é coletivo e deve ser reflexivo:

  • Antes: qual lacuna vamos enfrentar e como saberemos que estamos nos aproximando da solução?
  • Durante: o que foi produzido que pode entrar na aula amanhã? Que apoios ainda são necessários?
  • Depois: o que mudou na participação, nos registros e no desempenho dos estudantes? Que práticas emergiram e merecem escalonamento?

Formar é “afinAR” (tomando AR): afinar metas ao diagnóstico, afinar teoria ao gesto de sala, afinar tempos para que o processo formativo renda.

Quando a formação nasce do que a escola pede, passa pelo que a pesquisa ensina e volta ao que o estudante precisa, ela deixa de ser evento e vira processo que sempre aprende.

¹ Paráfrase de estrofe do poema “No meio do caminho”, de Carlos Drummond de Andrade.

REFERÊNCIAS

ALTENFELDER, Anna Helena. Formação Continuada: os sentidos atribuídos na voz do professor. São Paulo: PUC-SP (Dissertação de mestrado), 2004.

FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS. Relatório sobre formação continuada de professores. Disponível em https://publicacoes.fcc.org.br/textosfcc/article/view/2452/2407. Acesso em 20 de outubro de 2010.

Autora: Sâmia Assis Fernandes Carvalho é pedagoga especializada em Esporte Educacional, Educação Profissional, Gestão Escolar, Direito Educacional e possui MBA em Gestão de Negócios. Atualmente, cursa bacharelado em Fonoaudiologia. Atua na área da educação há 17 anos, sendo 13 como Gestora Escolar. Atualmente, é Coordenadora de Operações Educacionais da solução em Formação Continuada de Educadores do grupo Vitae Brasil.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Acessar o conteúdo