Avaliação Educacional: como aplicar e definir metas realistas para 2026

Ao longo da história da educação, a busca por encontrar uma forma de avaliar adequadamente o ensino e a aprendizagem já passou por altos e baixos, experiências desastrosas e também muito positivas, além de muitos questionamentos e reflexões a respeito de sua eficácia.

Não é para menos: ainda hoje, no Brasil e em muitos lugares do mundo, o peso de uma avaliação (e aqui entram as mais conhecidas, como o SAEB e o ENEM, além dos grandes vestibulares) é determinante para o futuro dos nossos estudantes desde muito cedo!

A avaliação educacional é mais que uma formalidade ou uma exigência burocrática: é um instrumento estratégico que permite aos educadores e gestores conhecer o alcance das aprendizagens, mapear lacunas e definir rumos para a melhoria contínua. Elas podem oferecer respostas sobre o desenvolvimento de nossos estudantes e garantir subsídios para que mais investimentos pelo bem da educação saiam do papel.

Como aplicar e interpretar os dados de avaliações

Acabamos de passar pelo SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) avaliação de larga escala que ocorre bienalmente no Brasil, aplicada pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão do MEC, para diagnosticar a qualidade da educação básica no Brasil.

Além das provas cognitivas, os questionários de contexto (para professores, diretores, estudantes, famílias) ampliam a leitura dos resultados ao olhar condições socioemocionais que influenciam no processo de ensino-aprendizagem. Esse conjunto de dados oferece uma série de informações que devem nortear a interpretação de gestores e profissionais, olhando para alguns pontos com cuidado:

  • A média das turmas ou da escola pode esconder variações significativas. O gestor e os educadores precisam olhar além dos números.
  • Resultados anteriores da própria escola/rede, médias estaduais ou nacionais, devem ser usados como referência.
  • Identificar as habilidades que tiveram maior incidência de insucesso dá  condições para mais assertividade na intervenção!
  • Infraestrutura, situação socioeconômica, formação de professores, frequência, turmas multisseriadas, recursos, apoio pedagógico… influenciam o resultado. Se os dados mostrarem baixo desempenho numa turma, investigue o contexto antes de simplesmente “criticar o trabalho docente ou a dedicação do grupo”.

Como definir metas realistas?

  • Parta do diagnóstico: primeiro sabemos onde estamos, depois definimos para onde queremos ir.
  • Metas devem ser SMART: Específicas, Mensuráveis, Atingíveis, Relevantes e Temporais.
  • Determine ações concretas. Metas bonitas apenas no papel, sem plano de ação real, são só boas intenções.
  • Estabeleça metas intermediárias para ajustes contínuos. É mais fácil ver os “próximos cinco metros de uma estrada com neblina do que visualizar os 50 quilômetros que ainda faltam pra chegar na próxima cidade”.

Para a Educação Infantil a meta, na maioria das vezes, não será vinculada ao SAEB/IDEB, mas ao desenvolvimento de competências de linguagem, motricidade, interações sociais, pré-alfabetização.

Para o Ensino Fundamental, anos iniciais, o foco está na alfabetização plena (leitura, escrita) e fluência; nos anos finais, resoluções de problemas, argumento e compreensão crítica. As metas devem estar alinhadas com os resultados de avaliações nacionais e locais.

Vale reforçar: a meta nunca é um trabalho isolado do professor! Equipe e comunidade devem trabalhar juntas para o bem dos estudantes!

Transformando dados em ações

Todas as informações, notas, médias e relatórios não valerão de nada se não houver um plano prático, objetivo, claro e real para a evolução dos nossos estudantes!

Também não é coerente esperar que se façam “milagres” apenas quando as avaliações se aproximam. As metas de melhoria precisam ser constantemente trabalhadas ao longo de todo o ano letivo para que, quando a avaliação se aproximar, não seja necessário (e sacrificante) realizar planos mirabolantes que atingem poucos (ou nenhum) resultados.

Passo a passo para transformar dados em ações

  1. Identifique quais turmas/ações apresentam maior necessidade e nomeie os “gargalos” identificados na última avaliação.
  2. Escolha duas ou três competências-chave para foco nos próximos 12 meses. À medida que atingirem resultados, redefina novas metas.
  3. Realize formação continuada para educadores com base nas lacunas identificadas. Estruture os momentos de intervenção dentro da rotina, com recursos pedagógicos selecionados. Monitore o processo apoiando (não apenas cobrando!).
  4. Realize reuniões regulares da equipe pedagógica para revisar e ajustar. Mantenha a comunicação para famílias: informar o que está sendo feito, o porquê, como elas podem apoiar.
  5. Programe sondagens rápidas para verificar progresso, compare os resultados com as metas intermediárias e ajuste o plano conforme necessidade.

Mostre resultados (mesmo as pequenas evoluções) e reconheça esforços da equipe e dos estudantes. O reforço positivo sempre contribui. E esse processo precisa ser parte da rotina e não apenas exceção às vésperas da prova       

Usar os dados não como fim, mas como meio

Os resultados das avaliações, sejam do SAEB ou de instrumentos internos, trazem duas mensagens fundamentais: o que já conseguimos e o que ainda falta. A chave está em reconhecer ambas com humildade e determinação combinadas.

As metas para 2026 não devem ser vistas como pressão, mas como farol: apontam para onde queremos chegar, considerando a realidade de cada escola e rede. Também não podem ser vistas como “carrascos” à procura de culpados. O diferencial está em transformar essas metas em ações cotidianas significativas. A formação de um professor, a roda de leitura, o acompanhamento personalizado, a parceria com famílias… Tudo isso faz diferença real.

E, acima de tudo, lembrem-se: cada estudante tem uma história. Por trás dos gráficos, das médias, dos percentuais, há crianças e jovens com sonhos, expectativas, potenciais. E cada educador pode contribuir para torná-los protagonistas dessa jornada.

A avaliação educacional não substitui e jamais pode anular o olhar cuidadoso, o afeto, o gosto de aprender, mas potencializa o seu impacto, ao dar pistas mais confiáveis sobre por onde caminhar.

Quem trabalha pela educação acredita que as avaliações de 2025 trarão diagnósticos lúcidos e metas firmes e realistas para 2026.

Uma certeza: trabalhar com ações comprometidas que coloquem aprendizagem com sentido no centro da vida escolar. Um reconhecimento: o trabalho de cada educador importa, hoje e sempre.

Referências

BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Brasília: INEP, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/pesquisas-estatisticas-e-indicadores/ideb. Acesso em: 31 out. 2025.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC, 2018. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/bncc. Acesso em: 31 out. 2025.

UNESCO. Education for Sustainable Development Goals: Learning Objectives. Paris: UNESCO, 2017. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org. Acesso em: 31 out. 2025.

BRASIL. INEP – Relatório Anual de Atividades e Gestão 2024. Brasília: INEP, 2025. Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/relatorio-anual-de-atividades-e-gestao-do-inep-2024. Acesso em: 31 out. 2025.

Autora: Amanda Helena é jornalista e professora, com licenciatura em Letras e especialização em Linguística aplicada à Educação, Neurolinguística e Produção e Revisão de Textos. Atualmente, é Analista de Operações Sênior no grupo Vitae Brasil.

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