Se você está lendo este texto, certamente é porque o fato que celebramos nessa data foi determinante para a sua história.

No dia 8 de setembro celebramos o Dia Mundial da Alfabetização. Comemorado desde 1967, esse marco foi determinado pela Organização das Nações Unidas (ONU), após ter sido instituído oficialmente pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em outubro de 1966, visando sensibilizar governantes, educadores e toda a sociedade sobre a importância da alfabetização como direito humano fundamental e base para sociedades mais justas e sustentáveis.

Essa celebração é também uma oportunidade anual de avaliar políticas, refletir sobre avanços e buscar soluções inovadoras… Uma necessidade urgente, afinal, olhando com lentes atentas para o globo, encontramos dados assustadores:  aproximadamente 739 milhões de jovens e adultos ainda não possuem habilidades básicas de leitura e escrita (dados de 2024), enquanto 4 em cada 10 crianças não atingem proficiência mínima em leitura, e 272 milhões de crianças e adolescentes estão fora da escola.

O tema de 2025 — “Promovendo a alfabetização na era digital” — escolhido pela UNESCO para os Prêmios Internacionais de Alfabetização deste ano, destaca o papel das tecnologias no ensino, mas também os riscos de exclusão digital e os perigos do mau uso da tecnologia. Longe de parecer “mais do mesmo”, discutir a importância da alfabetização e aprender a utilizar as novas ferramentas a favor de um ensino democrático são debates que estão muito distantes de um esgotamento. Ao contrário, nunca foi tão necessário trazer a alfabetização para o centro das discussões da Educação.

Se você é educador e quer aprender a usar a tecnologia de forma simples e ética na alfabetização, conheça o Ensina GPT — um método prático que ensina a planejar e criar atividades com inteligência artificial, mesmo sem saber nada de tecnologia.

Situação da alfabetização infantil no Brasil

O “Indicador Criança Alfabetizada” (ICA – Índice calculado com base nos resultados das avaliações do 2º ano do fundamental, realizadas pelos sistemas estaduais, em cooperação técnica com o INEP), coloca o Brasil na marca de 59,2% de crianças alfabetizadas até o final do 2º ano do Ensino Fundamental em 2024, uma pequena melhora em relação aos 56% de 2023, mas abaixo da meta de 60% estabelecida para 2024.

Não se pode esquecer, também, que há uma persistência das desigualdades regionais:

  • Ceará: 85,3%; Goiás: 72,7%; Minas Gerais: 72,1%; Espírito Santo: 71,7%; Paraná: 70,4%.
  • Estados como Bahia (35,96%), Sergipe (~38–39%) e Rio Grande do Norte (~39%) ainda enfrentam desafios graves.

No total, 58% dos municípios melhoraram seus resultados entre 2023 e 2024, e 53% atingiram a meta de 60%. A queda no Rio Grande do Sul (de 63,4% em 2023 para cerca de 44–45% em 2024) foi atribuída às enchentes que afetaram profundamente o estado em todas as áreas e não seria diferente com a educação. Para 2025, a meta nacional é 64%, e até 2030, 80%, com objetivo final de alcançar 100% de alfabetização.

Como o analfabetismo pode impactar a vida adulta e a sociedade

Em pleno século XXI, mais do que o analfabetismo de fato, o analfabetismo funcional bateu a marca de cerca de 27% da população brasileira em 2018; entre universitários, chegou a 38%. Infelizmente, a marca não melhorou e, em 2025, 29% dos brasileiros de 15 a 64 anos são analfabetos funcionais. Isso significa dizer que, apesar de serem capazes de ligar uma letra a outra e, juntando sílabas, decodificar palavras, frases e pequenos textos, uma significativa parcela da população brasileira não tem a capacidade de leitura e escrita para o cotidiano, o entendimento de informações básicas e a habilidade de interpretar o que lê.

Dizer que o analfabetismo gera exclusão social, dificuldades no mercado de trabalho, limita condições de acesso à informação e fragiliza o exercício da cidadania, comprometendo desenvolvimento econômico e social, sinceramente, é pouco diante do que realmente está por trás desses elementos.

Por que a alfabetização é fundamental?

A alfabetização propicia o desenvolvimento de habilidades cognitivas, como memória, atenção e pensamento crítico, além de favorecer habilidades socioemocionais e autoestima. Parece óbvio, porém, é necessário repetir que ler e escrever oportunizam acesso à educação, cultura, informação, e fortalecem a participação ativa na sociedade. A alfabetização é a base para direitos, empoderamento e redução das desigualdades.

Boas práticas e estratégias para fortalecer a alfabetização

Não é redundante relembrar que políticas como o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada têm contribuído com formação continuada de professores, apoio técnico e materiais pedagógicos.

Estados de destaque (Ceará, Minas Gerais) mostram que cooperação e intensificação de recursos podem gerar avanços significativos.

A discussão acerca da importância da tecnologia, trazida como tema pela UNESCO, pode ampliar oportunidades, mas também marginalizar quem não tem acesso. Ensinar a usar tecnologias com senso crítico é crucial. Metodologias ativas — como aprender fazendo, ensino lúdico e avaliação contínua — têm se mostrado eficazes na alfabetização, integrando leitura e escrita com práticas diversificadas.

Professores comprometidos têm trazido para a sala de aula a junção de metodologias que colocam o estudante no centro do processo, mas a escola não faz nada sozinha. A discussão sobre a alfabetização precisa mobilizar as famílias e a sociedade, num esforço conjunto que faça a criança avançar.

Quer transformar essas práticas em realidade na sua sala de aula? O Ensina GPT te mostra, passo a passo, como planejar aulas em minutos, criar jogos, histórias e atividades lúdicas com o apoio da inteligência artificial.

Dicas práticas para educadores e famílias

Se você está se perguntando como contribuir, aqui vão algumas dicas simples, mas poderosas:

  1. Estimule a leitura diária com textos simples e atraentes, como histórias curtas.
  2. Crie rotinas de leitura compartilhada (família/escola).
  3. Valorize a participação das crianças na escolha dos livros e recursos de leitura.
  4. Utilize a tecnologia a seu favor, com jogos de formar palavras, bingo de letras, rimas e músicas, mas, não faça das telas o centro do processo!
  5. Leve as crianças para passeios que estimulem a vontade de aprender: museus, teatro, exposições, contação de histórias… O encantamento estimula o desejo de saber mais.
  6. Atividades lúdicas ajudam a fixar fonemas, vocabulário e compreensão textual.

Prefira livros ilustrados, de rimas e temas do cotidiano infantil. Busque bibliotecas públicas, empréstimos escolares, plataformas com livros digitais gratuitos e recursos visuais como cartazes e álbuns de imagens.

O Dia Mundial da Alfabetização é um lembrete da importância da alfabetização como direito humano essencial e alicerce para o desenvolvimento individual e coletivo. Ainda enfrentamos desigualdades marcantes por aqui, e grande parte da população sofre com o analfabetismo funcional. Investir em políticas públicas inovadoras, tecnologias inclusivas, formação de professores e práticas lúdicas é vital para garantir equidade educacional e construir uma sociedade mais justa, crítica e participativa.

Hoje, queremos propor que você fique com a imagem de uma porta que dá acesso a todo o conhecimento, às histórias, às leis, às informações do mundo. Essa porta chama-se alfabetização e ela permite a uma criança decifrar uma placa de rua, compreender uma receita, se emocionar com um livro ou reivindicar seus direitos. Que nesse dia – e em todos os outros também – possamos lembrar que a chave dessa porta não está nas mãos de todos — e que garantir esse direito é um desafio coletivo que exige atenção diária, começando na infância.

A alfabetização é mais do que decifrar letras: é descobrir mundos, narrar histórias e construir identidades. Cada criança alfabetizada representa uma vida com mais possibilidades, uma comunidade mais forte e um país mais preparado para o futuro. No Dia Mundial da Alfabetização, renovamos a esperança de que, ao unir esforços entre escola, família e sociedade, podemos transformar essa realidade, sem deixar ninguém para trás e sem que todas as outras portas se fechem para alguns, porque a alfabetização não pode ser um privilégio de poucos. Ela é um direito de todos!

Referências

AGÊNCIA GOV. 58% dos municípios melhoraram alfabetização. Brasília: Agência Gov, 11 jul. 2025. Disponível em: https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202507/58-dos-municipios-melhoraram-alfabetizacao. Acesso em: 24 ago. 2025.

CNN BRASIL. Brasil melhora, mas não bate meta de alfabetização de crianças. São Paulo: CNN Brasil, 10 jul. 2025. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/educacao/brasil-melhora-mas-nao-bate-meta-de-alfabetizacao-de-criancas/. Acesso em: 24 ago. 2025.

FGM – Federação Goiana de Municípios. Brasil avança na alfabetização infantil, mas ainda enfrenta desafios para atingir meta até 2030. Goiânia: FGM, 12 jul. 2025. Disponível em: https://www.fgm-go.org.br/Imprensa/Noticias/Brasil-avanca-na-alfabetizacao-infantil-mas-ainda-enfrenta-desafios-para-atingir-meta-ate-2030-306/. Acesso em: 24 ago. 2025.

UNESCO. International Literacy Day. Paris: UNESCO, 2025. Disponível em: https://www.unesco.org/en/days/literacy. Acesso em: 24 ago. 2025.

G1. Analfabetismo funcional no Brasil. https://g1.globo.com/educacao/noticia/2025/05/05/3-a-cada-10-brasileiros-sao-analfabetos-funcionais-indica-pesquisa.ghtml. Acesso em 28 ago. 2025.

Autora: Amanda Helena é jornalista e professora, com licenciatura em Letras e especialização em Linguística aplicada à Educação, Neurolinguística e Produção e Revisão de Textos. Atualmente, é Analista de Operações Sênior no grupo Vitae Brasil.

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