
A Síndrome de Down (SD) é uma condição genética causada pela trissomia do cromossomo 21. Caracteriza-se por um desenvolvimento motor e intelectual mais lento, além de características físicas específicas. Pode estar associada a problemas de saúde, como disfunções da tireoide, diabetes, epilepsia, doenças cardíacas, dificuldades auditivas e visuais.
A primeira descrição clínica da SD foi feita em 1866 pelo médico pediatra inglês John Langdon Down. O termo “síndrome” refere-se a um conjunto de sinais e sintomas observáveis, e “Down” é uma referência ao sobrenome do médico. No Brasil, estima-se que a incidência da condição seja de um caso a cada 1.000 a 1.100 nascidos vivos. Segundo a ONU, entre 3.000 e 5.000 crianças nascem anualmente com essa condição. Em 2020 e 2021, foram notificados 1.978 casos detectados no nascimento, com maior prevalência nas regiões Sul e Sudeste.
A educação inclusiva é essencial para o desenvolvimento e a socialização de estudantes com SD. No entanto, pesquisas indicam que 14,5% das pessoas com a condição nunca frequentaram a escola, impactando suas oportunidades futuras. O papel da escola e dos professores é fundamental na promoção de um ambiente de aprendizagem acessível e motivador.
Como os professores podem incluir estudantes com Síndrome de Down na escola?
Cada estudante, independentemente de qualquer deficiência, tem um perfil único, com habilidades e dificuldades em determinadas áreas. No caso dos alunos com SD, é importante considerar que o aprendizado ocorre em um ritmo mais lento, havendo dificuldades de concentração e de retenção da memória de curto prazo. A escola deve promover estratégias pedagógicas que respeitem esse tempo e favoreçam o desenvolvimento pleno do estudante.
Para estimular a autonomia, é recomendável incentivar a realização de tarefas diárias, como organizar o material escolar, tomar banho e preparar um lanche. Essas atividades, inicialmente supervisionadas, fortalecem a segurança e a independência, preparando o aluno para desafios futuros.
Nos últimos anos, houve avanços significativos na qualidade de vida das pessoas com SD. Se, na década de 1920, a expectativa de vida era de apenas 9 anos, hoje ultrapassa os 60 anos, graças às melhorias nos cuidados médicos e na inclusão social. Muitos jovens com SD concluem o ensino médio, ingressam na universidade e conquistam espaço no mercado de trabalho, demonstrando que a educação inclusiva faz diferença.
Leia também: Dicas e práticas para promover a inclusão na escola
A Importância dos sistemas de suporte para estudantes com a Síndrome de Down
Para garantir o pleno desenvolvimento dos alunos com SD, é essencial contar com sistemas de suporte adequados. Isso inclui:
- Políticas públicas e legislação que garantam a inclusão e o acesso a serviços especializados.
- Apoio familiar e comunitário, promovendo um ambiente favorável ao desenvolvimento.
- Tecnologias assistivas, como aplicativos e recursos visuais que auxiliam na comunicação e na aprendizagem.
- Acessibilidade física e pedagógica, garantindo que a estrutura da escola e os materiais didáticos atendam às necessidades do estudante.
Leia também: Dicas e práticas para promover a inclusão na escola
Síndrome de Down e Alzheimer
Estudos indicam que cerca de 70% das pessoas com SD desenvolvem Alzheimer em algum momento da vida. Isso ocorre devido à expressão do gene da proteína precursora amiloide, localizado no cromossomo 21, que favorece o acúmulo da proteína beta-amiloide no cérebro. Apesar desse risco aumentado, fatores como estilo de vida e estimulação cognitiva podem retardar ou minimizar o impacto da doença.
Mitos e Verdades sobre a Síndrome de Down
- A Síndrome de Down tem graus?
Mito. Não existem “graus” da síndrome. Cada pessoa com SD tem características e habilidades individuais, influenciadas por fatores genéticos e ambientais.
- A Síndrome de Down é uma doença?
Mito. A SD é uma condição genética, não uma doença. Pessoas com SD podem ter problemas de saúde específicos, mas não devem ser tratadas como doentes.
- Pessoas com SD podem ter uma vida independente?
Verdade. Com apoio adequado e incentivo ao desenvolvimento de habilidades sociais e cognitivas, muitas pessoas com SD trabalham, estudam, moram sozinhas e formam famílias.
- Pais mais velhos têm mais chances de terem filhos com Síndrome de Down?
Verdade: Mulheres que engravidaram após os 35 anos têm maior chance de ter um bebê com Down. No entanto, o Centro de Controle de Doenças e Prevenção dos EUA (CDC) aponta que 80% dos bebês com Down nascem de mães com menos de 35 anos, pois há mais nascimentos nessa faixa etária.
- Pessoas com Down não podem ler nem escrever e não deveriam estar em escolas convencionais?
Mito: Estudantes com Down podem aprender a ler e escrever, embora possam precisar de mais tempo e adaptações curriculares. O atendimento educacional especializado é um direito garantido, e a inclusão no ensino regular favorece o desenvolvimento.
- Todas as pessoas com Down têm sobrepeso?
Mito: Nem todas. Entretanto, problemas no tireóide e um metabolismo mais lento podem contribuir para o aumento de peso. Por isso, é fundamental um equilíbrio entre o consumo calórico e o gasto energético.
Métodos eficazes para ensinar alunos com Síndrome de Down
Para promover um ambiente de aprendizagem inclusivo, os educadores podem adotar as seguintes estratégias:
- Adaptação curricular: flexibilizar conteúdos e objetivos, priorizando a funcionalidade e a aplicabilidade na vida cotidiana.
- Uso de materiais visuais e concretos: facilitar a compreensão por meio de imagens, vídeos, diagramas e objetos manipuláveis.
- Metodologias ativas: aprendizagem baseada em projetos, gamificação e ensino colaborativo para estimular o engajamento.
- Recursos tecnológicos: aplicativos educativos e ferramentas digitais para reforçar habilidades cognitivas e comunicativas.
- Rotinas estruturadas: oferecer previsibilidade nas atividades, contribuindo para a segurança e autonomia do estudante.
- Apoio à comunicação: incentivar o uso de linguagem alternativa, como comunicação aumentativa e pictogramas, quando necessário.
- Trabalho com pares: estimular interações com colegas, promovendo a cooperação e o respeito à diversidade.
- Avaliação diversificada: utilizar múltiplas formas de avaliação, incluindo observação, portfólios e produções orais.
10 Dias de Inclusão para Estudantes com Síndrome de Down
Essa proposta sugere um plano de 10 dias com atividades voltadas para a inclusão efetiva de estudantes com Síndrome de Down no ambiente escolar. Cada dia traz uma ação específica que contribui para a conscientização, adaptação curricular e interação entre alunos.
Dia 1: Sensibilização da turma
- Realizar uma roda de conversa sobre diversidade e inclusão.
- Apresentar histórias inspiradoras de pessoas com Síndrome de Down.
Dia 2: Conhecendo as potencialidades
- Criar um painel com as habilidades e talentos dos estudantes.
- Mostrar vídeos ou relatos de jovens e adultos com Síndrome de Down em diferentes áreas.
Dia 3: Comunicação e expressão
- Introduzir pictogramas e outros recursos visuais na rotina da turma.
- Trabalhar atividades que estimulem a oralidade e a expressão corporal.
Dia 4: Metodologias Ativas
- Aplicar uma atividade baseada em aprendizagem por pares.
- Explorar jogos pedagógicos e gamificação.
Dia 5: Adaptação curricular
- Revisar materiais didáticos e propor adaptações para tornar o conteúdo acessível.
- Utilizar recursos multissensoriais no ensino.
Dia 6: Arte e criatividade
- Desenvolver atividades artísticas para expressão individual e coletiva.
- Promover um mural inclusivo com produções dos alunos.
Dia 7: Inclusão no esporte
- Adaptar atividades esportivas para garantir a participação de todos.
- Realizar jogos cooperativas.
Dia 8: Tecnologia como aliada
- Introduzir aplicativos e ferramentas digitais para auxiliar a aprendizagem.
- Criar um pequeno projeto digital envolvendo a turma.
Dia 9: Família e Escola
- Promover um encontro com familiares para troca de experiências.
- Compartilhar boas práticas e orientações sobre inclusão.
Dia 10: Celebração da diversidade
- Organizar uma apresentação ou exposição dos trabalhos realizados.
- Reforçar a importância da inclusão e do respeito às diferenças.
Considerações Finais
A inclusão de estudantes com Síndrome de Down exige um compromisso coletivo da escola, professores, colegas e famílias. A implementação de estratégias pedagógicas adequadas, aliada a iniciativas como os 10 Dias de Inclusão, fortalece o respeito à diversidade e promove uma educação mais equitativa para todos.
O papel dos professores é essencial na criação de ambientes de aprendizagem acessíveis e motivadores, garantindo que esses alunos desenvolvam suas potencialidades. Ao acreditarmos no potencial de cada estudante e oferecermos os recursos necessários, promovemos uma sociedade mais justa e inclusiva. Ações contínuas são essenciais para garantir que cada estudante tenha oportunidades reais de desenvolvimento e aprendizagem, dentro de um ambiente escolar acolhedor e acessível.
Referências:
BRASIL. O Dia Mundial da Síndrome de Down celebra a importância da inclusão. Portal Brasil , 21 mar. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/saude-e-vigilancia-sanitaria/2022/03/dia-mundial-da-sindrome-de-down-celebra-a-importancia-da-inclusao . Acesso em: 14 fev. 2025.
RÁDIO USP. Síndrome de Down acelera o processo de envelhecimento e aumenta as chances de Alzheimer. Jornal da USP , 29 nov. 2022. Disponível em: https://jornal.usp.br/radio-usp/sindrome-de-down-acelera-processo-de-envelhecimento-e-aumenta-chances-de-alzheimer/ . Acesso em: 14 fev. 2025.
BRASIL. Senado Federal. O Brasil tem 270 mil pessoas com síndrome de Down. Senado Notícias , 21 mar. 2022. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/sis/noticias-comum/brasil-tem-270-mil-pessoas-com-a-sindrome-de-down . Acesso em: 18 fev. 2025.
DIA MUNDIAL DA SÍNDROME DE DOWN. Tema 2025. Dia Mundial da Síndrome de Down , 2025. Disponível em: https://www.worlddownsyndromeday.org/2025-theme . Acesso em 17 fev.2025.

Autora: Paula Rodrigues é Especialista em Neurologia Cognitiva e Processos de Aprendizagem, Mestranda em Intervenção Psicológica no Desenvolvimento e na Educação, e Coordenadora de Programas Especializados do grupo Vitae Brasil.