As formas de educar mudaram muito, ainda mais após a pandemia. Por isso, a importância de se falar sobre um ambiente cooperativo nas escolas e na sociedade. Leia mais.
Por muito tempo, educadores de todo o mundo replicaram frases como: “Façam silêncio!”, “Parem de conversar”, “Prestem atenção”, afinal, com um currículo de conteúdos tão extenso e com o tempo tão curto de aulas, é fácil entender que com os alunos considerados “dispersos” não seria possível atingir os objetivos educacionais esperados em um ambiente cooperativo.
Mas aí entra a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Nunca houve um documento como ele: normativo, e que definisse as competências básicas que todos os estudantes precisariam aprender para seu desenvolvimento integral.
Um momento de alívio surgiu entre os professores, gestores, coordenadores e demais envolvidos no contexto educacional, até que se pode observar que o documento trazia sim as competências e habilidades necessárias para serem desenvolvidas, mas não apresentava o “como fazer”, a maneira de aplicar todo aquele conteúdo visando o cumprimento das habilidades descritas.
A partir daí, mais um embate: como conseguir remodelar todo o currículo, desenvolver as competências e criar fórmulas mirabolantes para aplicar o conteúdo?
Material grátis: Guia completo para uma Gestão Escolar eficiente!
Sala de Aula na Pandemia
Se já estava tudo muito nebuloso, ninguém contava, então, com uma pandemia no meio do caminho, que ocasionou o fechamento das escolas, migração das aulas presenciais para o ensino remoto emergencial e pareceres do Conselho Nacional de Educação definindo o que poderia ser aplicado durante este período tão turbulento.
Imaginar a real implementação da BNCC, que até então deveria acontecer até o final de 2020, tornou-se impossível, afinal de contas, estávamos tentando conciliar a melhor forma das aulas acontecerem e o conteúdo não ser perdido.
Todos nós sabemos que fomos afetados pela pandemia do Covid-19. Não há sequer uma pessoa que possa garantir não ter sofrido em alguma das dimensões: pessoal, profissional, e especialmente no lado social e emocional.
Segundo dados de um relatório de 2017 da Organização Mundial da Saúde (em inglês), o Brasil era o país, dentre todos os países das Américas, com o maior número de pessoas que sofriam de transtornos de ansiedade, afetando 9,3% da população, o que era equivalente a 18,6 milhões de pessoas. Ainda no mesmo relatório, destacou-se que transtornos depressivos foram relatados por 5,8% da população.
Dados como esse, que já mostravam um número tão alto de pessoas com algum tipo de transtorno relacionado à saúde mental antes da pandemia, apenas aumentou no ano passado e neste ano.
Os casos de depressão no mundo, que na última década já haviam passado de 4,5% para 8%, estão hoje em níveis alarmantes. Segundo dados de uma reportagem da CNN sobre um estudo feito pela Universidade de São Paulo, entre 11 países estudados, o Brasil tem o maior número de casos de pessoas que sofrem de ansiedade com 63%, e os casos de depressão chegam em 59%. Atualmente estima-se que 350 milhões de pessoas sofram de depressão no mundo, sendo que de 1% a 2% deste número, são crianças.
Material grátis: Competências Socioemocionais: como desenvolvê-las na Educação Infantil!
Saúde Mental
Mas por que esses dados devem ser considerados relevantes na hora de pensarmos nos ambientes cooperativos escolares? Primeiro: com a volta das aulas presenciais neste ano de 2022, grande parte da comunidade escolar e especialmente dos alunos ainda pode estar sofrendo com o luto. É de se esperar que tanto professores quanto estudantes tenham a sua saúde mental levada em consideração no retorno presencial às aulas.
Independentemente de esforços governamentais para tratar a saúde mental de educadores e da comunidade, podemos observar uma grande busca na área educacional de termos relacionados a Inteligência Emocional, Autoconhecimento, Empatia, Consciência Social, entre outras. Essas, que são conhecidas como competências socioemocionais, estão sendo muito importantes para o tratamento e apoio às pessoas que ainda sofrem os efeitos deste período.
Podemos encontrar a definição de competência socioemocional como sendo um conceito que envolve o estudo das emoções. Segundo o CASEL, organização sem fins lucrativos voltada ao desenvolvimento das habilidades socioemocionais e ao aprendizado colaborativo, acadêmico, social e emocional de alunos da educação básica, resumidamente, a educação socioemocional se refere ao processo de entendimento e gerenciamento das emoções, com empatia e pela tomada de decisão responsável.
Quando analisamos as 10 competências gerais que constam na BNCC, temos resumidamente:
Fonte: BNCC
Fica evidente que praticamente metade das competências gerais descritas na BNCC competem ao desenvolvimento de competências socioemocionais, o que mostra que esse tipo de habilidade é tão importante quanto os aspectos cognitivos, e afeta diretamente o desempenho escolar de modo geral, além de contribuir para uma sociedade mais justa e humana.
Como podemos tornar a sala de aula um ambiente cooperativo, propício ao aprendizado e com segurança emocional, para que, além dos conteúdos acadêmicos que a Base preconiza, os estudantes possam desenvolver habilidades de vida, as tão conhecidas habilidades do século XXI?
Como Tornar um Ambiente Cooperativo
Veja o que fazer para tornar a sala de aula em um ambiente cooperativo no cenário pós-pandêmico.
Material grátis: Planejamento do ano letivo: como preparar a sua rede!
1) Permita momentos em que os estudantes possam se conhecer
Com o longo período de ensino remoto, além do isolamento social, se relacionar ficou em segundo plano para a maioria das pessoas. Quem garante que os alunos que estão na sala de aula hoje são os mesmos que iniciaram o ano letivo no ano passado, ou antes da pandemia? Pode haver casos de evasão escolar, mudança de escola, troca de turnos.
Então, pensar em atividades para que eles se conheçam e troquem informações de sua vida pessoal, faz com que eles desenvolvam a empatia, tenham a sensação de pertencimento e segurança emocional. Quando conhecemos a pessoa que iremos nos relacionar nos sentimos seguros para interagir, trabalhar em grupo e trocar informações sempre que necessário.
Assista ao vídeo sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos:
2) Trabalhe em grupos
Sabemos a importância do trabalho com grupos em sala de aula e neste período pós-pandêmico, isso é ainda mais necessário. Atividades em que todos se sentem importantes e contribuindo com suas ideias trazem maior satisfação e isso resulta em um aprendizado efetivo.
Defina papéis nos grupos: escritor, monitor do tempo, monitor de materiais, guardião da dúvida, etc. Assim, o seu gerenciamento dos grupos fica mais eficiente, pois, os estudantes se sentem responsáveis e contribuindo na organização da atividade.
3) Dê importância à saúde mental
Conforme já falamos, além dos alunos não se conhecerem tão bem, eles estão voltando com uma bagagem emocional diferente de quando as aulas foram pausadas.
Reserve momentos para observar se o comportamento dos estudantes mudou, se eles estão confortáveis nas atividades e conseguindo assimilar o conteúdo. É sempre bom lembrar às crianças que elas podem contar com você em todos os momentos.
4) Sinta-se “abraçado” e “abrace” seus colegas
Não são só os alunos que voltaram com uma bagagem emocional diferente. Professores, gestores, coordenadores e toda a comunidade escolar passaram por momentos de isolamento e podem ter perdido amigos e entes queridos e isso deve ser levado em consideração.
Respeite sempre o momento de cada um, mas mostre-se à disposição caso algum colega queira conversar ou procure você caso precise de um ombro amigo. Os abraços reais ainda não são considerados totalmente seguros, mas não se esqueça, estamos todos no mesmo barco.
5) Mantenha contato com os pais
Sabemos que a união entre família e escola é essencial em qualquer época da vida escolar de um estudante. Neste período de volta às aulas, criar ou manter o contato com as famílias é muito importante para o sucesso escolar dos alunos.
Converse com os responsáveis, afinal, o aprendizado não acontece apenas dentro da sala de aula, devendo-se se estender também dentro de casa. Utilize as redes sociais, crie grupos de discussão ou solicite a presença dos responsáveis na escola, se necessário.
Dessa forma fica claro que a equipe escolar serve de apoio na hora de contribuir para a formação de seus filhos.
Material grátis: Como melhorar a relação entre família e escola no ensino híbrido ou remoto!
E você pode encontrar conteúdos sobre ambiente cooperativo escolar mais tudo isso que acabou de ler em nosso programa de formação de educadores totalmente voltado ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais – Kagan Brasil.
Neste programa, que tem como principal produto a Aprendizagem Cooperativa, os educadores terão à disposição ferramentas instrucionais que servirão de apoio na hora de montar o plano de aula. São estratégias de fácil aplicação e que fazem com que a sala de aula se torne um ambiente acolhedor e de aprendizado efetivo.
➡️ Clique aqui e saiba mais sobre o programa que pode revolucionar a sua forma de ensinar!
Assista ao vídeo sobre a Aprendizagem Cooperativa:
O Blog da Faz Educação traz muitas informações para pais, professores e toda a comunidade escolar. Acompanhe!
Aproveite também o acesso liberado de todos os nossos Materiais Educativos Exclusivos!
Referências:
Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília. 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/ Acesso em 23 mai. 2022.
Covid: saúde mental piorou para 53% dos brasileiros sob pandemia, aponta pesquisa. BBC News Brasil. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-56726583. Acesso em 23 mai. 2022.
CNN Brasil. Brasil lidera casos de depressão na quarentena, aponta pesquisa da USP. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/brasil-lidera-casos-de-depressao-na-quarentena-aponta-pesquisa-da-usp/. Acesso em 23 mai. de 2022.
CASEL. Creating a Safe, Supportive Environment for Learning. Disponível em: https://casel.org/creating-a-safe-environment-for-learning/>. Acesso em 23 mai. 2022.
Depression and other commom mental disorder. Global Health Estimates. World Health Organization, 2017. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/254610/WHO-MSD-MER-2017.2-eng.pdf. Acesso em 23 mai. 2022.